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“- Doutora, eu não sinto nada, mas estou aqui para começar a me prevenir, afinal de contas, eu já estou com certa idade.”

Este é, muitas vezes, o início do diálogo entre paciente e médico na primeira consulta com o geriatra. O paciente deseja ‘iniciar sua prevenção’, expressão que traz implícita a pergunta sobre o que cabe a ele fazer para viver uma vida longa e produtiva e a expectativa sobre o que o médico lhe dirá. Comumente, ele espera que sejam solicitados exames e que sejam prescritos vários medicamentos, sobretudo vitaminas, com o propósito de prevenir ou de retardar o envelhecimento. Mas, qual o real papel do geriatra para ajudar o paciente a viver mais e melhor?

Sabemos que uma parte dos problemas de saúde que podemos ter na velhice tem origem genética, outra depende das exposições ambientais que nosso organismo venha a sofrer e uma terceira parte depende do nosso estilo de vida, isto é, das nossas escolhas. E é justamente nesta última que nos cabe intervir.

As principais condições passíveis de prevenção em um ou mais níveis são as doenças infecciosas, as cardiovasculares (sobretudo o infarto e o derrame), o câncer, as doenças respiratórias e as causas externas, como as quedas. A imunização, o rastreamento (visando o diagnóstico precoce), e as mudanças de estilo de vida são, juntamente com os medicamentos, as principais intervenções que o geriatra irá propor.

A imunização do adulto é um tópico frequentemente negligenciado. Além da vacinação veiculada em campanhas, como a da gripe, é preciso discutir com o profissional se há indicação de outras vacinas previstas no calendário vacinal do adulto, como a vacina contra a bactéria causadora de pneumonia, contra o vírus varicela-zoster (causador do herpes zoster), contra o tétano, a difteria e a coqueluche (dTPa), contra a hepatite B e contra a febre amarela.

O bom rastreamento tem como pilares a boa entrevista clínica, o exame físico sistematizado e a solicitação individualizada e racional de exames complementares. Algumas condições específicas a ser ativamente buscadas e tratadas são a hipertensão, as alterações nos lipídeos (colesterol, triglicerídeos), a obesidade, a inatividade física, o diabetes, o tabagismo, o abuso de álcool, o uso de drogas ilícitas, a infecção pelo HIV e pelo vírus da hepatite, o hipotireoidismo, a perda cognitiva e os quadros depressivos, a osteoporose e o câncer. Sobre este último, há que se avaliar junto ao profissional de saúde a indicação individual de rastreamento para os cânceres de colo de útero, de mama, de cólon (intestino), de pulmão, de pele e de próstata, discutindo-se todos os prós e contras.

Cabe-nos enfatizar um alerta quanto aos chamados tratamentos “antienvelhecimento”. Embora seja fácil encontrar quem os prescreva, até o presente momento, esses tratamentos carecem de qualquer respaldo científico e não são recomendados pelas autoridades médicas de nenhuma parte do mundo. Vitaminas, por exemplo, são compostos químicos com ações farmacológicas sobre o nosso organismo, e, desta forma, podem produzir efeitos colaterais indesejáveis. Em muitos casos podem não nos fazer qualquer bem e às vezes até nos fazer mal. Vitamina só faz bem quando é realmente necessária e por isso deve ter indicação médica.

Uma menção especial deve ser feita em relação ao exercício físico. O exercício regular e orientado permite o condicionamento cardiorrespiratório e ajuda a diminuir as perdas musculares decorrentes do envelhecimento. Idosos praticantes de exercícios têm maiores chances de se manter ativos e independentes e ainda apresentam redução de risco de comprometimento cognitivo. O exercício é um dos fatores que podem ser responsáveis pela variabilidade do estado geral exibido entre idosos de mesma idade. A obtenção do que chamamos de “envelhecimento bem-sucedido”, condição em que o idoso exibe preservação de suas funções, seja no seu autocuidado, seja na sua capacidade de produzir e se relacionar com o mundo, não necessita de treinamento físico em nível de competição. O benefício máximo do exercício físico como promotor da saúde e da preservação funcional pode ser obtido conjugando-se regularidade em sua prática com a orientação profissional adequada na sua prescrição. De forma geral, procura-se manter um equilíbrio entre o fortalecimento muscular e o condicionamento aeróbico, sempre se tendo em mente as particularidades de doenças e as preferências dos indivíduos.

De forma geral, não há grandes segredos em relação ao que deve ser de fato feito para prevenir doenças:

– ter hábitos alimentares saudáveis,

– praticar atividades físicas regularmente,

– fazer acompanhamento médico periódico para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos eventuais agravos à saúde,

– ter descanso e lazer apropriados,

– cultivar bons pensamentos e manter a mente estimulada, ativa e produtiva.

Envelhecer é a simples consequência de não morrer antes do tempo. Envelhecer bem, esse sim, é nosso grande objetivo.

Dra Graziela Cristina Pichinin Milanello

Geriatra – RQE nº 3097

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