Muitas famílias adquirem uma bengala para oferecer mais segurança para o idoso. Mas é preciso cautela: quando utilizada indevidamente, pode prejudicar o desempenho e aumentar o risco de quedas.
O processo de envelhecimento pode ser traduzido em alterações físicas que acabam por comprometer a mobilidade, força muscular e equilíbrio dos idosos. Eles ficam mais instáveis e, muitas famílias, com intuito de oferecer mais segurança para o idoso, adquirem uma bengala por conta própria.
A bengala é um dispositivo auxiliar de marcha que muito contribui para a estabilidade do idoso enquanto caminha ou realiza suas atividades do dia-a-dia. Tem como função ampliar a base de sustentação e fornecer informação tátil ao usuário para que este aumente o equilíbrio. Mas quando utilizada indevidamente, sem ajustes, ou sem um treino adequado, pode prejudicar ainda mais o desempenho do idoso, inclusive aumentar o risco de quedas. O mesmo serve para andadores e muletas.
A bengala só deve ser prescrita para quem apresenta problema de equilíbrio ou instabilidade, fraqueza importante nas pernas ou tronco, lesões ou dor. Para isso é necessária uma avaliação específica, que considere não só a função dos membros inferiores, mas também os aspectos visuais, cognitivos e sensoriais do idoso, tendo em vista os objetivos e queixas funcionais que justifiquem o uso do dispositivo.
Havendo indicação, faz-se necessário realizar os ajustes. A altura correta da bengala é na altura do trocânter maior do fêmur, uma estrutura óssea mais proeminente, palpável, na região lateral do quadril. A mão deve ficar devidamente apoiada no cabo da bengala, com cotovelo dobrado em um ângulo de 30°, permitindo assim a impulsão e a descarga do peso. E, ao contrário do que muitos pensam, utiliza-se a bengala do lado contrário à lesão ou lado mais comprometido.
Outro aspecto fundamental é o treino para uso do dispositivo, que deve ser realizado por um fisioterapeuta. Estima-se que 30 a 50% dos pacientes param de usar seus dispositivos precocemente devido à falta de orientação e acompanhamento. Esse treino irá ensinar o paciente a descarregar ou não o peso sobre a bengala e o momento exato das passadas, ajustando também o balanço do tronco e do braço livre. Uma bengala pode reduzir até 20% do peso corporal sobre o membro, dependendo do seu desenho e do treinamento de marcha.
Tenham cautela ao adquirir uma bengala para um idoso sem a prescrição adequada e acompanhamento. Procure um fisioterapeuta qualificado para avaliar a necessidade, ajustar o dispositivo e orientar o uso correto. As evidências são inquestionáveis.
Francielle Fialkoski
Fisioterapeuta, Especialista em Gerontologia pela SBGG e Mestre em Saúde Coletiva
Presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-MT
Proprietária da Vital Sênior Fisioterapia, parceira do Espaço Più Vita
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